Todo final do ano, quando nos reuníamos com minha mãe, a dona Dirce, sempre lembrávamos de um certo Natal, quando eu tinha dez anos e minha irmã caçula, quatro.
Na verdade, a história começou antes do Natal. Era final de novembro e minha mãe precisava entregar o ponto onde tinha o salão, na Rua Luiz da Cunha. Mudamos para a Martinico Prado e dona Dirce comprou um ponto comercial na Duque de Caxias. Era uma loja de armarinho e presentes e o antigo dono abandonou brinquedos e artigos esportivos.
Minha mãe não teve dúvidas, levou-nos para conhecer e tomar posse de bolas, luvas de goleiros, joelheiras, jogos e brinquedos diversos.
Para minhas irmãs, tinha também bonecas variadas, de pano e até com rosto e mãos de porcelana. Uma ficou com uma boneca, negra, com roupas de baiana e colares cheios de contas, outra pegou uma noiva, com véu e grinalda. Tinha diversas bonecas e adereços.
Para minha mãe, este já era o nosso presente de Natal.
Era um presentão, mas nós, os filhos, não entendemos assim...
Quando chegou o Natal, ganhei um trenzinho de madeira com bonequinhos (pinos) que subiam e desciam, conforme era movimentado. Minhas irmãs ganharam panelinhas e marmitinhas de plástico. Foi uma grande decepção e uma choradeira sem fim.
É curioso como funciona a lembrança. Lembro-me de diversos natais com os tios, com a família, de momentos felizes, mas, inesquecível mesmo foi o daquele ano, que sempre lembrávamos soltando muitas gargalhadas.
Descobri que o verdadeiro sentido do Natal não está nos presentes que ganhamos, ou que damos. Papai Noel passa longe disso.
O importante é estar com seus entes queridos. Aproveite cada momento com sua família e amigos.