Faleceu no dia 3 de dezembro, aos 74 anos, de covid e outras complicações, Antônio José da Cruz Santos, o “Niltão”, médico do HC e ex-jogador de futsal de Ribeirão Preto. Como homenagem aqui está o texto sobre ele que escrevi em maio de 2015, que representa a alegria e a lição de vida do seu legado. Todos os anos, em 22 de dezembro, dia do meu aniversário, telefonava-me cantando “Parabéns a Você”. O apelido “Nilton Santos” ele ganhou pelo corte de cabelo igual ao do lateral do Brasil na Copa de 58, e virou “Niltão” para os amigos. Tri-campeão universitário de futsal pela Medicina, seu time era Cordeiro; Sakamoto, Niltão, Carlito e Tuleka.
Para não perder sacou Sócrates do time...
Sócrates, ídolo do Botafogo, era reserva na Medicina. Escalado num jogo, foi substituído aos 10 minutos a pedido de Niltão, não corria e a derrota era iminente. O técnico mudou e a Medicina ganhou. Os Jogos Universitários reuniam na Cava do Bosque jogadores de Botafogo e Comercial, como Roberto Rebouças e Pedrinho Santilli, e craques do futsal como Dácio Campos, Caliento e Ênio Pasquali. Até hoje se encontram semanalmente para confraternização. Agora sem o “Dr. Niltão”. Dr. Antônio José da Cruz Santos (o Niltão) perdeu a visão num acidente em 1979, estava no 2º ano de residência médica. Trocou Ortopedia por Fisiatria, que podia exercer sem a visão.
Comercialino, cego e bem-humorado...
Perdeu a visão, mas não o bom humor. No Posto da Rua Minas, no HC ou no consultório, chamava o paciente “Antônio do São Paulo” quando o sobrenome era Santos, e brincava: “Nesta sala só entra quem é do São Paulo”. Comercialino, Niltão ia à Palma Travassos, sentava no meio da torcida e ficava ouvindo pelo rádio. Num jogo ouviu que o time só atacava pela esquerda e começou a gritar: “Vira para a direita”. Carlos Melo, o “Pagão”, viu que era seu amigo Niltão, brincou: “Eles não viram o jogo, porque sabem que é um cego que está mandando”. Em 14 de abril de 2015 finalmente retribui o carinho, telefonei para o Niltão e cantei “Parabéns a você”. Pelo seu aniversário e pela belíssima lição de vida que ele dava a todos nós. Insubstituível.