Todo final de ano é sempre a mesma coisa. A rede Globo faz um show do conhecido cantor, proclamando-o como “rei”.
Vou logo dizendo: a rede televisiva não tem o meu consentimento para ficar dizendo, toda hora, que o sr. Roberto Carlos é o “meu” rei.
Respeito o trabalho do cantor e sei que ele tem um “milhão de amigos”, é um cara “papo firme”, um “amante à moda antiga”, mas “muito além do horizonte” eu grito “nas curvas da estrada de Santos” que ele não é o “meu” soberano.
Prefiro outros compositores e intérpretes, mas nem por isso declaro qualquer um deles como rei.
“Falando sério”. Quando “ele está aqui”, ele é uma pessoa que precisa de “o divã”, pois “na paz do seu sorriso”, “embaixo dos caracóis dos seus cabelos”, “ele é terrível”, e suas manias não são “pequenos detalhes”. Se o leitor, em momentos, pensa que eu “quero acabar com ele”, e que “tudo mais vá pro inferno”, está enganado!
Agora, “o cara” desmente a sua história e depois de trinta anos “voltou pras coisas que deixou” e diz que foi vegetariano, mas sentia vontade de comer carne.
Acredito que quando o artista passa por um processo de mitificação, um pequeno homem se esconde atrás do gigantesco mito. Aí, ele já não sabe mais quem é ele próprio. Desconhece onde começa um e termina o outro.
A mesma rede de televisão também trata Xuxa como rainha. “Rainha dos baixinhos”. Aí, fico muito à vontade para afirmar que não sou seu súdito, pois já sou bem crescidinho e acredito que ela também misturou a imagem adocicada que é vendida nas telinhas com o seu eu real, num processo de dissociação da personalidade.
Agora, um caso a parte é o “rei” da bola, sr. Edson Arantes do Nascimento que, mesmo sendo um craque dentro do campo, foi um desastre quando emitiu suas opiniões fora das quatro linhas.
Numa época ele se posicionou contra as “diretas já” afirmando que o brasileiro não sabia votar. E recentemente afirmou ser mais famoso que Cristo. Ele talvez até tenha razão, se considerarmos que milhões de muçulmanos, budistas, hinduístas e pagãos podem saber quem é Pelé e desconhecer Jesus.
Mas, falta-lhe apenas o que dá mais grandeza a um rei. A humildade.
E eu, que não sou nenhum bobo da corte, sei que “é preciso saber viver...”