Em Maceió, convivi algumas horas com Neto e Luciano do Valle, no Estádio Rei Pelé, enquanto nos preparávamos para a transmissão de um jogo da Copa dos Campeões. Neto estava começando como comentarista. Nossa conversa revelou duas coisas: Neto já não era aquele arrogante e prepotente dos tempos em que jogava e, deslumbrado com a nova atividade, mostrava-se surpreso com os problemas enfrentados antes de uma transmissão de rádio e TV. – “Quando a gente é jogador, que só vive no bem-bom, confortavelmente instalado nos hotéis, nem imagina as dificuldades que vocês passam para fazer uma transmissão”, afirmou arrependido de suas brigas com a imprensa.
Sacrifícios...
Os radialistas antigos aprenderam que só interessava ao ouvinte o produto final e assim os acontecimentos de bastidores eram guardados lá, diferente do que ocorre hoje. Neto tinha razão na sua descoberta, ninguém tomava conhecimento dos sacrifícios a que se submetiam repórteres, locutores, comentaristas e técnicos. Para uma transmissão de um jogo, que durava em torno de duas ou três horas, às vezes, eram consumidas de 12 a 18 horas de atuação, com viagens, instalação de equipamentos, sem contar os imprevistos. Muitas vezes até a alimentação era comprometida neste período. As viagens para outros estados eram ainda piores, muitas delas eram feitas de carro porque o orçamento das emissoras não permitia passagens de avião.
Riscos...
Certa vez, numa dessas viagens, o repórter Rodrigues Gallo, o comentarista Celso Franco e eu fomos a Curitiba de carro. Um Fiat 147 ou o “Azulão da Clube” (Fusca), não lembro bem. Este veículo minúsculo confrontou com uma enorme carreta, numa curva perigosíssima da famosa “Estrada da Morte” (Régis Bittencourt). Nós subindo e a “jamanta” descendo, faltavam poucos metros para ela passar por cima de nossa viatura. Rodrigues Gallo, no banco traseiro, afundando-se no assento rezou o Pai Nosso em décimos de segundo. Escapamos da tragédia. Aliviados, paramos o carro e caímos em gargalhadas, por alívio e gratidão, sem entender como o “Galinho” conseguiu rezar o Pai Nosso mais rápido do mundo sem atropelar uma palavra.