O médico Geraldo Costa e Silva (Pratinha), fã de Benedito Julião, viu a pressão da torcida: “como esquecer o movimento intenso pela cidade, a concentração dos torcedores frente à sede do clube, protestando quando o Botafogo negociava seu passe com o Santos? Iria jogar ao lado de Pelé, de par de glórias maiores. O povão gritando o ídolo, pedindo que ficasse. Negócio desfeito e ele ficou. Por mais alguns anos ensopando de suor a camisa tricolor”.
As irmãs Maria José e Maria Luiza confirmam a data: “1957”. A filha Fabiana cita: “era muita festa em volta dele”. Chegou ao Botafogo em 1953 após iniciar no XV de Piracicaba e passar pelo Uberlândia e Apucarana. Foi Campeão da 2ª Divisão em 1956. Parou em 1963. Fabiana cita que sentia fortes dores na coxa. Foi operado e não resolveu.
Casou-se com Maria Helena, auxiliar de enfermagem, em 1965, aos 33 anos. Aí foi técnico do Apucarana.
Em 1966 foi internado pela 1ª vez a pedido da esposa e das irmãs, ao dr. Ciconelli. As irmãs eram auxiliar de enfermagem no Hospital das Clínicas. Internou-se depois para retirada de um rim, que não funcionava. Mas não tomou remédio, nem fez atividade física, como recomendação médica. Manteve-se a pressão alta, não podia trabalhar e a casa foi mantida pela esposa. Esmerou-se nos cuidados aos filhos, alimentando-os e dando-lhes banho. Em 1971 a esposa conseguiu emprego para ele na portaria de hospital onde trabalhava, em Campinas. Foi internado sete dias com crise de hipertensão; porque o único rim estava sobrecarregado.
Em 1972 mudou-se para Ribeirão Preto e foi internado por 15 dias no Sanatório São Vicente de Paula. Em casa sentiu-se mal, a esposa aplicou-lhe soro e dormiu. No dia seguinte ela pediu ajuda a Jorge Monseff, que o levou, com a esposa e o filho Fernando, ao Sanatório São Vicente de Paula, que lhes recomendou o Pronto Socorro. Lá faleceu por insuficiência cardíaca. Era 15 de junho de 1972. Tinha 40 anos. O filho Fernando, 6, e a filha Fabiana, 11.
Fernando é professor de Geografia na Rede Estadual de Ensino e Fabiana é professora de Ciências e Biologia no Centro Educacional Marista. Ela tem o filho Pedro Miguel Julião. Maria Helena casou-se com Rachid, que fala orgulhoso: “eu criei as crianças”. Fabiana: “é um avô carinhoso, adorado pelo Pedro”.
Dr. Pratinha guarda fortes lembranças de Benedito Julião, como esta: “num jogo com o Juventus, quarta-feira à noite, o Botafogo fez gol bem no início. Pouco depois Benedito Julião surgiu nas sociais do Estádio Luiz Pereira. De repente a massa irrompeu nos aplausos, gritando seu nome. Benedito Julião, Benedito Julião. Ela olhando para cima, cambaleando e chorando. O resto da cena não posso narrar fidedignamente porque meus olhos ficaram úmidos e embaçados. E no peito um aperto esquisito que a simples lembrança faz repetir agora. Uma vibração desta máquina biológica que sente e não pode medir a distância que vai da glória à miséria humana”.
Luiz Eduardo (Dudu)