Pelé completou 80 anos no dia 23 de outubro. O pesquisador José Renato Sátiro Santiago Jr, num breve relato do histórico do Rei do Futebol contra 80 times brasileiros, elegeu o Botafogo como um dos que mais sofreram gols do Santos. Dos 28 jogos, o Santos ganhou 24 e alcançou a incrível marca de 100 gols, média de 3,6 por jogo. Pelé fez 40. O destaque estatístico, de triste memória para os botafoguenses, foi a goleada de 11 a 0, em 1964, quando Pelé marcou 8, batendo o recorde, até então, de maior número de gols marcados por um mesmo jogador em uma partida.
Houve mais duas goleadas, 5 a 0 e 5 a 1, em 1965 e 1969, quatro gols de Pelé. Mas o Botafogo também venceu Pelé, só uma vez, em 1957. Vitória de 4 a 2, no Luiz Pereira, 13 dias antes de Pelé completar 17 anos e 3 meses depois de ele estrear no Campeonato Paulista. Era o 1º ano do Botafogo na Divisão Especial. Botafogo: Machado, Sula e Benedito Julião; Mário, Antônio Julião e Dicão; Arlof, Neco, Mairiporã, Moreno e Hélio. Santos: Manga, Mauro e Mourão; Fioti, Ramiro e Urubatão; Tite, Álvaro, Pagão, Pelé e Pepe. Gols de Mairiporã, Pagão, Hélio, Arlof, Tite e Moreno.
Até hoje historiadores escrevem que a goleada de 11 a 0, foi uma vingança de Pelé, que teria sido insultado por um torcedor no 1º turno, no Estádio Luiz Pereira, ao final da vitória do Botafogo (2 a 0). Muita gente contava que o autor dos insultos era Francisco Rubens Calil (Quico Calil), que depois, arrependido, teria contratado Pelé como garoto-propaganda de A Modelar (empresa de Quico) para se redimir. Alguns até juravam ter visto uma cusparada de Quico atingir Pelé, que, de mão espalmada, no gesto tradicional, dizia: “espera, no 2º turno vocês vão lá”. Lendas e verdades ilustram a história, Pelé nem participou do jogo do 1º turno.
Botafogo 2 x Santos 0.
Data: 6/9/1964.
Local: Estádio Luis Pereira, em Ribeirão Preto.
Botafogo: Machado; Ditinho, Egidio e Maciel; Hélio Vieira e Tiri; Zuíno, Alex, Antoninho, Adalberto e Gaze.
Santos: Gilmar; Ismael, Haroldo e Lima; Zito e Joel; Rossi, Mengálvio, Coutinho, Toninho e Pepe.
Gols: Adalberto e Alex.
Árbitro: Armando Marques.
Renda: Cr$ 6.092.800,00 (8.208 pagantes).
A história de Manoel se mistura com a história do Botafogo, nenhuma pode ser contada sem a outra. Durante uma década jogando com a camisa do tricolor de Ribeirão Preto, o zagueiro experimentou fases boas e ruins do clube, mas nunca esmoreceu, nem no amor ao clube nem na raça em campo, que era sua grande marca. Duas grandes equipes na década de 70 foram marcantes na trajetória de “Manelão”. A “Orquestra” de 1974 e a campeã da Taça Cidade de São Paulo, primeiro turno do Campeonato Paulista de 1977.
Em 1977, Manoel foi o símbolo da imagem do Botafogo na capa do caderno de esportes do Jornal da Tarde, um dos mais importantes do país. Barbudo, em foto de página inteira, Manoel era a expressão colossal da grande conquista, no Morumbi. Não consegui o arquivo do Jornal da Tarde para reproduzir aqui. É provável que algum botafoguense tenha ou o próprio arquivo pessoal de Manoel guarde esta relíquia. Quem tiver, e puder nos enviar, ajudará a publicar a página do JT como homenagem ao histórico zagueiro do Botafogo, que faleceu no dia 13 de outubro, aos 75 anos.
Manoel Oliveira Costa, nome completo do zagueiro botafoguense, estava com Alzheimer, doença que atinge muitos ex-jogadores de futebol e, com a morte de Bellini, titular do Vasco, São Paulo e Seleção Brasileira na Copa de 58, provocou um debate importante na ciência médica. Bellini estava sendo tratado como Alzheimer, mas um estudo feito no seu cérebro depois da morte concluiu que o problema dele era lesão no cérebro por cabecear muitas vezes a bola. Não pelo impacto da bola, mas pela batida do cérebro na parede craniana com o movimento para o cabeceio.
Mais um ano se passou, mais um ano de convivência com esta figura maravilhosa e importante na história do Botafogo e da comunidade ribeirão-pretana. Em setembro de 2019 escrevi que a primeira semana de setembro tem ligação histórica com Botafogo, Ribeirão Preto e Minas Gerais, porque há três datas significativas a comemorar: Dia da Independência (7/9/1822), estreia do Botafogo no Campeonato Brasileiro no Mineirão contra o Cruzeiro (4/9/1976) e nascimento de Henrique Salles (5/9/1936).
Nascido em Carangola-MG por circunstância, mas filho de Ubá-MG, Henrique Salles foi o camisa 10 do Botafogo de 1960, que tinha o ataque com Zuíno, Laerte, Antoninho, HENRIQUE e Géo, que o jornalista Fernando Braga, do Jornal da Vila, chamou de “Linha Mágica”, o mais eficaz da história tricolor. É também um dos mais importantes dirigentes do futebol de Ribeirão Preto, responsável por organizar o futebol do Botafogo no acesso para a elite nacional em 1998 e na conquista da Série A3 em 2006.
.Henrique foi selecionado por Aymoré Moreira para a Seleção Brasileira que seria reformulada após a Copa de 62. Brilhou no futebol e na odontologia, participou de projetos de grande importância social. Aliás, desenvolveu um trabalho - “Odontologia Aplicada ao Esporte” - de alto nível. Conseguiu montar consultório sem custos no Botafogo, mas o equipamento deteriorou por desleixo dos cartolas. Henrique brinca que é “Sub-90”. A ele devemos reverenciar e agradecer hoje, nos seus 84 anos, e sempre.
No dia 15 de setembro faleceu, aos 80 anos, um dos maiores ícones do rádio de Ribeirão Preto: Carlos Orlandi. Após um AVC, cinco anos atrás, Orlandi teve trajetória saudável ao lado dos familiares, mas limitado por uma cadeira de rodas, contrastando com seu dinamismo que sempre caracterizou sua vida profissional. Semana passada contraiu pneumonia e, internado, aguardou o resultado do teste da covid-19, que deu negativo. Receberia alta na segunda-feira, mas houve uma piora e faleceu na terça-feira.
Além do rádio, Orlandi integrou a equipe da primeira emissora de TV instalada em Ribeirão Preto, uma afiliada da TV Tupi, no final da década de 50 até 1963. Quando cheguei a Ribeirão Preto, em 1971, ele estava realizando suas últimas transmissões, trocava o microfone pelo Departamento Comercial da Rádio 79. Como repórter era temido pelos concorrentes porque não titubeava em aplicar um golpe de mestre para obter matérias exclusivas. O que lhe rendeu muitos furos, mas também “inimizades”.
O “Off-Tube” (locutor no estúdio, vendo o jogo pela TV) hoje é recurso para diminuir custos, naquela época era por falta de tecnologia, houve até transmissão sem ver o jogo. O Comercial jogava numa cidade onde instalar linhas era inviável. Carlos Orlandi e o narrador (Pedro Giacomini ou Moraes Neto) usaram um telefone emprestado na cidade vizinha. Orlandi, de cima do telhado, para ouvir a transmissão da rádio local, dava sinal para o narrador, que, ao telefone dentro da casa, criava os lances baseando-se nos sinais recebidos. Ginástica que garantiu exclusividade. O “rádio do céu” ganha grande reforço.
A final do Paulistão deste ano entre Corinthians e Palmeiras me fez recordar os bons tempos em que Ribeirão Preto fornecia jogadores às grandes equipes do futebol brasileiro. Dois deles escreveram seus nomes na grande decisão Palmeiras x Corinthians em 1974, Palmeiras campeão. No primeiro jogo da final o lateral-direito do Palmeiras foi Eurico (ex-Botafogo), que não pode jogar no segundo jogo e foi substituído por Jair Gonçalves (ex-Comercial), que cruzou a bola para Leivinha ajeitar de cabeça e Ronaldo marcar o gol do título.
Titular sete anos na Academia do Palmeiras, sucessor de Djalma Santos, e sete anos no Grêmio, Eurico foi revelado pelo Botafogo. Campeão paulista também em 1972, brasileiro em 1969, 1972 e 1973 pelo Palmeiras, campeão da Copa Roca e Taça Independência pela Seleção Brasileira e no Grêmio, além de campeão em 1977, Eurico é titular do time dos sonhos em todas as pesquisas de melhor time de todos os tempos. Machado, histórico goleiro do Botafogo, contava que um garoto chorava depois de um treino com a possibilidade de ter que voltar para casa sem ser aprovado. Era Eurico, que, confortado pelo goleiro, permaneceu no Botafogo.
O radialista Helton Pimenta, bom de bola, numa excursão do Botafogo completava o time reserva nos treinos e via o jovem iniciante Eurico, ao seu lado, matar a bola no peito e sussurrar: “Roberto Dias!”. Verdades ou lendas, os sonhos de juventude, contados por Machado e Helton, fizeram de Eurico um profissional tão importante no Palmeiras e no Grêmio como foi seu ídolo Roberto Dias no São Paulo. Outros jogadores que saíram de Ribeirão Preto marcaram seus nomes nas decisões Corinthians x Palmeiras. Em 1974, Leão (ex-Comercial) pelo Palmeiras e Zé Roberto (ex- Botafogo) pelo Corinthians. Em 1993, Leandro Silva (ex- Botafogo) pelo Corinthians. Em 1999, Jackson (ex-Comercial) pelo Palmeiras.
Wilson Roveri, com quem trabalhei em várias rádios e jornais, ao notar falta de reconhecimento aos feitos de alguém, protestava com “Rei morto, rei posto”, ditado baseado na mitológica história de Teseu, que derrotou o Rei Minos e herdou o trono, a viúva do rei e a adoração do povo de Creta. No falecimento de Ricardo Ribeiro, em 19 de junho, a imprensa ribeirão-pretana mostrou que está preocupada com outros “reis”. Ricardo não pode ser lembrado somente como o deputado que participou das “Diretas Já” e o presidente que compôs o hino do Botafogo.
Na política e no futebol...
Ele foi presidente nacional do PTB, substituiu Ivete Vargas, falecida em 1984, colocando Ribeirão Preto no cenário político do Brasil, como mostram fotos em revistas da época e imagens das TVs, ao lado de Franco Montoro e Ulisses Guimarães, citados como três lideranças nacionais. Por tratar a todos com igualdade, provavelmente, esta simplicidade confundiu os jornalistas locais. Ricardo Ribeiro colocou também o futebol de Ribeirão no cenário nacional, não só com o acesso do Botafogo em 98 à Série A do Brasileiro e o vice paulista de 2001, ele também presidiu a entidade que cuidava dos interesses dos clubes da Série B.
No Rádio...
Em 1972/73, além de presidente do Botafogo, Ricardo foi proprietário, via UNAERP, da Rádio Renascença (Atual CMN). Para um jogo em Marília viajamos (Domingos Leoni, Wilson Roveri, Sebastião Cabral e eu) no “Landau” presidencial, carro que parecia um avião. No Botafogo e fora dele, quando queriam colocar mais humor na conversa ou demonstrar intimidade, os amigos se referiam a Ricardo Ribeiro como “Menino Jesus”. Nunca pesquisei e nem sei se a origem do apelido é publicável, mas hoje esta pesquisa está prejudicada, aqueles amigos do “Menino Jesus” também já faleceram. Neste caso, qualquer “rei” que se pretender posto estará abaixo do rei morto. Uma história gigante!
Faleceu no dia 25 de maio Osvaldo Alvarez, aos 63 anos, vítima de um câncer. Conhecido como Vadão ele se consagrou como técnico ao montar o “Carrossel Caipira” no Mogi Mirim, na década de 90, revolucionando o futebol paulista ao adotar o mesmo sistema da seleção da Holanda, o “Carrossel Holandês”, que revolucionou o futebol mundial na Copa do Mundo de 1974, disputada na Alemanha. Depois disso brilhou no São Paulo, Corinthians, Athletico-PR e Seleção Brasileira de futebol feminino.
O Vadão que conheci...
Carreira de técnico tão brilhante, com títulos no São Paulo, no Athletico-PR, na Seleção e com trabalhos notáveis por onde passou, que ofuscou o jogador, ninguém fala do atacante Vadão. Nem em Ribeirão Preto a imprensa deu o devido destaque a sua passagem pelo Botafogo. É desse Vadão, que conheci e entrevistei muitas vezes, que quero falar. Ponta-esquerda de chute forte, velocidade e brilho nos olhos para vislumbrar um futuro de ouro. Mal sabia que isso aconteceria, mas fora dos gramados.
Último encontro...
Na EPTV: “Jogou no Botafogo e no Guarani, mas só no Juvenil”. Não foi só isso, Vadão participou do profissional em vários jogos em 1975. Numa noite de dezembro, mês de férias, avistei Brasil de Oliveira, jornalista de Campinas, no alambrado em Jaboticabal assistindo ao jogo Seleção do Interior x Atlético. Fui saber o que fazia ali e descobri que ele acompanhava Vadão, ponta da Seleção, na época jogador do Guarani, última vez que falei com Vadão. Um reencontro nunca aconteceu e me faz muita falta.
Professor Ítalo...
Faleceu no sábado (13), aos 86 anos, Ítalo Bernardi. Professor Ítalo, como era tratado em razão de sua atividade na área do ensino, foi diretor de futebol do Botafogo por longos anos, em vários períodos. Conhecido por sua austeridade ao defender os interesses do Botafogo e a disciplina no seu setor de atuação, zeloso nas contratações, consultou-me por eu ser o único repórter presente ao primeiro treino de Aguilera. Queria uma opinião isenta antes de contratar o goleiro. Deu certo. Saudade, Professor!
A “Parada de 7 de setembro” tem uma ligação histórica de alto significado com o Botafogo. Muito mais do que a parada do Campeonato Brasileiro durante a Copa América. Essa, que seria boa para aprimorar o time para a sequência da Série B, foi um fiasco. O Botafogo fez tanta bobagem que deixou de disputar o acesso para se amedrontar com o rebaixamento. Aquela simboliza boas lembranças, conquistas, entre elas a consagração nacional com grande campanha na elite do Campeonato Brasileiro.
83 anos de Henrique...
Em 7 de setembro de 1822, D. Pedro I declarou a Independência do Brasil. Neste ano comemorou 197 anos. Em 5 de setembro de 1936, em Carangola-MG, nasceu Henrique Salles, um dos maiores meias (camisa 10) e um dos mais competentes dirigentes da história do Botafogo. Henrique comemorou seus 83 anos durante toda a Semana da Pátria e presenteou Antoninho, seu colega de ataque no time de 1960, com o cartaz do jogo que fizeram contra Grêmio de Porto Alegre. O Botafogo ganhou (4 a 1) com 4 gols de Antoninho.
43 anos de Nacional...
Semana da Pátria tem ligações históricas com Henrique, Botafogo e Minas Gerais. Em 4 de setembro de 1976 o Botafogo estreou em campeonatos brasileiros, empatando (0 a 0) com o poderoso Cruzeiro em pleno Mineirão. No dia 7 de setembro fez seu segundo jogo e derrotou o Uberaba por 1 a 0, no Uberabão. As coisas mudaram, 43 anos depois, no dia 7 de setembro, o Botafogo empatou (0 a 0) em casa com o fraco América-MG. Até a supremacia contra os mineiros na Semana da Pátria o Botafogo perdeu.
No próximo mês de dezembro, dia 9, o falecimento de Tiri completará dez anos. A história do Botafogo não se conta sem ele. Cerca de 40 anos de dedicação como atleta, supervisor e técnico. A maior homenagem a um profissional da área ele recebeu em vida, quando o consagrado técnico Otto Glória declarou publicamente que o sistema 4-3-3, com o armador pela ponta direita, foi lançado pelo Botafogo de Ribeirão Preto, dirigido por Tiri. Foi o período mais longo que ele permaneceu como técnico (interino), em 1974. Aquele time recebeu o apelido de “Orquestra”. O ataque era formado por João Motoca (que armava pela direita), Sócrates, Geraldão e Nenê. Otto Glória não só reverenciou o lançamento da tática, como mandou contratar João Motoca para a mesma função na Portuguesa de Desportos.
Doutor Milton Bueno...
Como supervisor, Tiri mantinha sob seu controle tudo o que envolvia o futebol do clube e ainda tinha sabedoria para evitar que os dirigentes fizessem “besteiras” na área administrativa. Não gostava de ser técnico porque quando estava neste cargo não dormia nas noites que antecediam os jogos. Uma imagem ainda clara e viva na memória deste colunista é a de uma rápida reunião à beira do gramado, daquelas enigmáticas que ele sabia fazer como ninguém para despistar abelhudos, que Tiri encerrou assim: “Manda ele vim, fala que pode vim”. A curiosidade levou o repórter à descoberta: Tiri estava autorizando o primeiro treino do ponta-direita Zé Mário Baroni no Botafogo. Competente, sério, mas com humor afiado para brincadeiras, sempre que alguém o chamava pelo nome ele retrucava: Milton Bueno não, DOUTOR Milton Bueno.
O choro...
Quem chora a perda de Tiri, provavelmente, o faz com o mesmo sentimento sincero que ele derramou em lágrimas ao ver o jogador Souza promovendo quebra-quebra no Estádio Santa Cruz, em 2005, revoltado com atraso de pagamento e descaso da diretoria. Naquele dia de fúria do volante, Tiri, que há anos já estava fora do clube e morando em Descalvado, passava por Santa Cruz para rever amigos. Certamente, cenas como aquelas e outras situações caóticas vividas no Botafogo, como muitas que ocorrem na atualidade, jamais aconteceriam se ele ainda estivesse do clube. Felizes são aqueles que aproveitaram a convivência para aprender com Tiri, ou melhor, com o “Doutor Milton Bueno”.
João da Silva Neto, o Sebinho, amigo inseparável e fiel escudeiro de Milton Bueno, o Tirí, supervisor do Botafogo, aprendeu muito com o seu velho amigo. Tiri deixou o clube antes de “Sebinho”, que passou a utilizar este aprendizado para resolver situações difíceis criadas internamente no clube. Massagista de primeira categoria, João da Silva Neto passou a adquirir poderes diante da omissão dos dirigentes em assuntos importantes relacionados com o elenco, a ponto de ganhar o apelido de “Presidente”.
A volta...
Esta situação criou “ligações perigosas”, o que no começo era um socorro que Silva Neto prestava ao clube para a casa não cair rendeu-lhe embaraços e em 2005 uma nova diretoria resolveu demitir o massagista com 38 anos de serviços prestados. O ciclo que se fechava naquele momento não era o fim da “Era Sebinho”. João da Silva Neto voltou ao Botafogo, solicitado que foi várias vezes, para colocar em prática sua experiência de bastidores, sempre para salvar o clube de situações de desconforto com o elenco.
A casa...
O Botafogo é a casa de Sebinho. Aliás, literalmente, durante anos ele residiu com a família numa casa dentro do Estádio Santa Cruz, ao lado das cabines improvisadas antes da construção do setor das cadeiras e camarotes. Lá ele até criava galinhas e porcos, uma parte da história contada com bom humor pelo ex-presidente Benedito Sciência da Silva, responsável pela construção do setor social. Entre suas idas e vindas, em 2012, Sebinho foi fundamental ao lado do técnico Benazzi para salvar o Botafogo do rebaixamento. Uma história fantástica.
Concentração sempre foi um grande problema para todos. Jogadores querendo o proibido e comissão técnica proibindo. Nem sempre há êxito nem de um lado nem do outro. Numa excursão da Seleção Brasileira, em 1983, Eder usou o apartamento de um radialista mineiro para driblar o técnico Parreira e levar uma loira para a concentração. Na década de 80, na excursão do Botafogo de Ribeirão Preto pela Venezuela, um juvenil estreante fez o mesmo e ainda permitiu que outros juvenis, que estavam na delegação, assistissem à aventura.
Voracidade...
Liberados ou não, casados ou solteiros, os jogadores sempre dão um jeitinho. Romário era voraz nesta prática. Em Dallas, nos Estados Unidos, durante a Copa de 94, provocou o maior corre-corre de jornalistas e cartolas no saguão do Doublé Hotel por levar uma mulher para o seu quarto na concentração do Brasil. A comissão técnica (Parreira e Zagalo) nunca confirmou, mas alguns anos depois, a companheira de noitada do “Baixinho” revelou tudo, posou nua para uma revista e virou “celebridade”. O Brasil foi tetra.
Suavidade...
O zagueiro Bordon, revelado pelo Botafogo e que brilhou no São Paulo e no Schalk-04 da Alemanha, nunca teve registro de atos que maculassem sua imagem como atleta e como homem, mas viveu uma experiência inusitada nas concentrações da Seleção Brasileira. Apaixonado por saxofone e um insistente aprendiz, nas vezes em que foi convocado, trancava-se no apartamento e enchia o instrumento com pano, abafando a saída do som, para ficar praticando as aulas sem fazer barulho.
José Agnelli dirigiu muitos times do interior de São Paulo, mas grande parte de sua história está ligada a Ribeirão Preto, especialmente ao Botafogo e à Vila Tibério. Rica em passagens engraçadas, a vida do técnico argentino foi pautada por “sacadas” que ele executava com desenvoltura pela criatividade e rapidez de raciocínio ao enfrentar situações difíceis ou notar alguma situação engraçada em sua volta. Conversar com ele era uma viagem a um mundo encantador.
Na Casa dos Atletas...
Na Casa dos Atletas, na Rua Martinico Prado, ele protagonizou episódios pitorescos ao longo do período em que ficou responsável por cuidar dos jogadores que se hospedavam naquelas dependências instaladas pelo Botafogo. Aconselhava os jovens e fiscalizava a conduta dos mais velhos. Chegou a surpreender Sócrates com o pé engessado saltando o muro de volta à Casa, ao amanhecer. O “Doutor” não morava lá, mas estava trazendo de volta um atacante que o acompanhara na noitada ribeirão-pretana.
Nas rádios...
Amigo da imprensa, Agnelli pagava jantares e rodadas de cervejas aos radialistas no “Bar do João”, mas abominava as “Mesas Redondas”, irritava-se com os comentaristas que se metiam a escalar os times durante os programas. Irônico, ao chegar ao Estádio no dia de Come-Fogo e ser perguntado pelos repórteres se o time estava escalado, respondeu: “Não sei, ainda não conversei com o Totinha”. Totinha era Antônio de Barros, um dos comentaristas que escalavam os times nas “Mesas Redondas”.
Quando um ídolo morre parece que parte de nossa infância e adolescência vai com ele. Em março de 2014 foi Bellini, zagueiro campeão na Copa do Mundo de 1958. Ainda garoto, ouvindo pelo rádio, emocionava-me com o locutor anunciando: “Corta Bellini”. E a imaginação viajava pelos campos da Suécia onde o Brasil encantava multidões com Gilmar; De Sordi e BELLINI; Zito, Orlando e Nilton Santos; Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo. Foi lá que Bellini imortalizou o gesto do capitão de levantar a taça. Fez casualmente para melhorar a visão dos fotógrafos e passou para a história.
Homenagem na Suécia...
Depois de ele encerrar a carreira, entrevistei Bellini várias vezes, figura fantástica, uma destas oportunidades ocorreu durante homenagem prestada à seleção na Suécia. Aí, já como jornalista cobrindo excursão do Brasil, em 1983, realizei o antes inimaginável sonho de garoto. Desfilei nos campos dos sonhos de 1958, passeando com Bellini, Vavá e Gilmar pelo Estádio de Gotemburgo e pela cidade de Udevala, onde a seleção brasileira jogou nas primeiras fases da Copa de 1958.
Jogo inesquecível...
A mais forte emoção de adolescente foi ver bem de perto, pela proximidade do alambrado, Bellini jogar no Estádio Luiz Pereira, em 1966, Botafogo x São Paulo. Com pernas mais grossas que minha cintura, Bellini limpava a área com a autoridade de um campeão mundial. O Botafogo perdeu (2 a 4), com Expedito; Ditinho, Roberto Rebouças, Vilela e Carlucci; Júlio Amaral e Márcio; Jairzinho, Ferreirinha, Quarentinha e Valdir. O São Paulo jogou com Fábio; Osvaldo Cunha, BELLINI, Jurandir e Celso; Roberto Dias e Nenê; Paraná, Prado, Babá e Adiber. Imagens criadas por um ídolo na memória de um fã são imortais.
Quando Fernando Braga me convidou para escrever uma coluna no Jornal da Vila fiquei duplamente feliz. Por voltar a trabalhar com ele, parceiro de jornadas memoráveis no desempenho da profissão e pela honra de participar de um jornal fiel ao bom jornalismo. Também me agradou a sugestão para eu contar curiosidades e fatos vividos por mim trabalhando em rádio, jornal e televisão ao longo dos anos, que não são poucos, de 1967 até hoje. Considero contribuição histórica as narrações de Schubert Persini, Rodrigues Galo e outros colaboradores do JV. Aliás, Galo é o maior contador de histórias sobre radialistas. Um papo imperdível.
Bellini...
É justo começar falando de meu primeiro jogo na Vila Tibério. Foi em 21 de setembro de 1966, viajei de Jaboticabal a Ribeirão Preto em companhia de alguns amigos para assistir ao jogo Botafogo x São Paulo. Encantei-me com o Estádio Luiz Pereira lotado. Emocionei-me vendo Bellini, zagueiro e capitão do Brasil na conquista da Copa de 1958. A coxa dele era mais grossa que minha cintura, um gigante. Além de outros ídolos como Roberto Dias, Paraná, Prado e Jurandir do São Paulo. No Botafogo gostei de ver Roberto Rebouças jogar, achei lindo o gol de cabeça de Ferreirinha, saltando na altura do travessão e cabeceando para baixo. Babá encobrindo Expedito com um toque genial também foi bonito.
Leone...
Apaixonado por rádio, como ouvinte, passei grande parte do tempo prestando atenção em Domingos Leone, sentado num banquinho atrás do gol, fazendo meta na transmissão da Rádio Bandeirantes. No ano seguinte comecei a trabalhar na Rádio Clube de Jaboticabal. O São Paulo ganhou de 4 a 2. Botafogo: Expedito; Ditinho, Roberto Rebouças, Vilela e Carlucci; Júlio Amaral e Márcio; Jairzinho, Ferreirinha, Quarentinha e Valdir. São Paulo: Fábio; Osvaldo Cunha, Bellini, Jurandir e Celso; Dias e Nenê; Paraná, Prado, Babá e Adiber. Gols de Prado (2), Ferreirinha (2), Babá e Roberto Dias. Árbitro: Olten Aires de Abreu. Público: 8.121 pagantes.
Não há dúvida que as grandes histórias do Botafogo foram registradas em Vila Tibério. Quando a sede do clube era na Rua Gonçalves Dias os repórteres “assinavam o ponto” todos os dias ali, onde as notícias fervilhavam. Principalmente no período matinal, onde o saudoso Márcio Morais se deliciava com o cafezinho e fumava um cigarro atrás do outro. Era um ambiente agradável, funcionários simpáticos, diretores aos montes. Bons tempos.
Aguilera...
Certo dia, o diretor de futebol Ítalo Bernardi me aguardava ansiosamente. Ao chegar com meu gravador para fazer as reportagens, o Professor Ítalo me interpelou: “Estava te esperando a manhã inteira para lhe fazer uma pergunta: o que você achou do goleiro?”. Depois de me chamar de lado e garantir que era uma conversa confidencial, ele explicou que, como eu era o único repórter a acompanhar o treino na Usina Galo Bravo, ele queria ouvir uma opinião isenta. O goleiro era Aguilera, que estava sendo testado naquele treino antes de ser contratado.
Cunha...
Os bastidores não esquentavam só na sede. A empresa de João Olaia Paschoal, diretor de futebol, também era na Vila, Rua Conselheiro Saraiva, se não me engano. Um dia o meia-esquerda Cunha chegou à empresa bufando: “O ‘cumpadi’, o homem me deixou de fora, não posso ficar em Ribeirão, tenho que viajar”. O jogo era no Nordeste. João Olaia: “Calma, Cunhita, vamos conversar”. Trancaram-se na sala por alguns minutos e pronto. Cunha seguiu com a delegação. Não se sabe o que Olaia falou para Jorge Vieira, nem como o técnico se justificou para incluir na delegação um jogador que ele havia dispensado. Ficou claro que autoridade de técnico tem limite, até quando é Jorge Vieira.
Resgatando a memória da Vila Tibério e valorizando sua gente!
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