Era bem tarde da noite quando três homens, provavelmente embriagados, tentavam invadir a casa de uma senhora no Rio de Janeiro. Nada discretos, foram flagrados pelo inspetor de quarteirão que logo imaginou ser uma tentativa de invasão com a finalidade de roubo. Para surpresa do inspetor, não era nada disso. Quando intimou os três para que se identificassem, ficou apavorado quando reconheceu um deles e só lhe restou pedir mil perdões. A seguir, foi correndo até a casa do subdelegado em plena duas horas da manhã para contar o que havia acontecido e tremendo de medo de perder seu emprego.
Este fato, que o tal inspetor jamais esqueceria, aconteceu nos idos 1870/1871 e um dos invasores era nada mais nada menos que o imperador D. Pedro II que na verdade estava mesmo embriagado, mas de amor e tentava ir ao encontro da dama. Quando o nome da dama foi revelado soube-se que era Carolina Bregaro, filha do dono do Real Teatro São João. Mas, para melhorar esta história, ela era casada com Rodrigo Delfim Pereira, um diplomata brasileiro educado na Inglaterra e que recebera ordens de seu ilustre pai para que voltasse falando corretamente o português.
Bem, para completar o “imbroglio”, o tal diplomata era meio-irmão de D. Pedro II, filho de D. Pedro I com Maria Benedita de Castro do Canto Melo, baronesa de Sorocaba, irmã da tal marquesa de Santos, amante de seu pai. D, Pedro II sabia de tudo isto, mas, mesmo assim, segundo alguns historiadores, este relacionamento entre ele e a cunhada durou cerca de uma década. Bem no estilo das novelas da Globo.
Mas, ela não foi o grande amor de D. Pedro II. Sua grande aventura extraconjugal foi a condessa de Barral, uma dama rica, proprietária de engenho, casada com um nobre francês e também preceptora das princesas imperiais Leopoldina e Isabel. Entre amassos e beijos e muitas cartas apaixonadas, este relacionamento durou cerca de 34 anos. Bem diferente do pai, D. Pedro II era muito mais discreto, pois não queria seguir as mesmas atitudes indecorosas de seu pai com seu relacionamento com a marquesa de Santos. Além disso, ele fora educado para que sempre passasse uma imagem mais rígida e de boa educação moral, pois o descarado romance do pai com a tal marquesa foi um prato cheio na época para os que eram contra a monarquia.
Vamos ao início desta história. O último imperador do Brasil nasceu no Rio de Janeiro e cresceu num império sem nenhum brilho ou sofisticação após a abdicação de seu pai. Quando seus esnobes primos da corte europeia vieram visitá-lo, um deles comentou que ele e as irmãs haviam herdado a corte mais miserável do mundo. Na verdade, era mesmo bem diferente do luxo das cortes europeias. Em compensação, seus tutores esmeraram em sua educação. Desde seus 6 anos foi preparado para assumir trono, quando seu pai abdicou a seu favor e voltou para Portugal para resolver uma disputa de sucessão do trono português. Foi coroado rei quando tinha apenas 14 anos. Mas, mesmo assim, era necessário se casar e claro, com uma jovem da realeza europeia. Procura daqui, procura dali e a premiada foi uma princesa em Nápoles. Quando viu o retrato da escolhida, princesa Teresa Cristina, ficou entusiasmado, mas ainda demorou mais de um ano para conhecer a jovem com a qual se casara por procuração.
No dia 3 de setembro de 1843, aos 17 anos, ele aguardava ansiosamente a chegada do navio que trazia a princesa. O navio aportou na Baía de Guanabara às 6 horas e, de acordo com o protocolo, ela só poderia desembarcar no dia seguinte. Quando soube disso, ele resolveu passar por cima do protocolo e decide ir até o navio naquela noite. Avisada disso, Teresa Cristina mal teve tempo de se embelezar e correu para o convés para esperá-lo.
Para grande decepção de D. Pedro II, ela não era nada daquilo que ele sonhava. Era baixinha, gorda e mancava de uma perna. Sem conseguir disfarçar a desilusão, D. Pedro deu-lhe as boas vindas, falou um rápido até amanhã, virou as costas e voltou para o palácio e foi chorar as mágoas com sua antiga preceptora dizendo que havia sido enganado. Foi uma dureza convencê-lo a aceitar o fato e seguir em frente com o casamento. Missão cumprida e o casal chegou a ter 4 filhos. Mas, apesar de ser tido como certinho, D. Pedro discretamente começou a dar seus pulinhos, colecionando “casos”. Segundo os fofoqueiros de plantão, o palco de seus encontros amorosos era sua famosa biblioteca.
Em busca de prestígio, muitos homens faliram para que suas mulheres pudessem frequentar a corte e a “biblioteca” do imperador. Mas, além da condessa de Barral, o imperador ainda teve outros tórridos casos com condessa Villeneuve e com a francesa condessa de La Tour. Com a maior cara de pau ele, imperador, declarava que amava com paixão cada uma de suas amantes... ao mesmo tempo. Talvez tudo isso se deve ao fato de ter se casado tão jovem por razões políticas com uma mulher pela qual nunca foi apaixonado. Como seu pai, era bem sovina com seus casos enquanto esbanjava seu próprio dinheiro com bolsas de estudos e fazendo caridades.
- Pedro II era um homem simples, sem ostentação, discretíssimo, de grande cultura, falava vária línguas, viajou por vários países e adorava o Brasil. Era grande defensor da educação. Também exigia que os funcionários públicos e os políticos trabalhassem oito horas por dia, assim como ele fazia. Sempre desprezou o luxo e uma vez afirmou que: “também entendo que despesa inútil e furto a Nação”.
Como seria maravilhoso se nossos políticos seguissem este exemplo. Durante seus 50 anos de governo a cultura e ciência se desenvolveram. O tráfico de escravos e a escravidão foram abolidos e muitas capitais brasileiras se modernizaram. Passou para a história como um intelectual, um homem a frente de seu tempo que apreciava as artes e a ciência, se correspondia com grandes cientistas de sua época, assim como com os grandes artistas. Mas, com certeza o simpático imperador apesar de seu aspecto sisudo, foi um grande conquistador. Bem diferente do descaramento de seu pai, sempre manteve a classe. Como todos sabem, foi destronado em 1889 quando aconteceu a Proclamação da República em 15 de novembro. Bem, isto é outra história.