Era uma terça-feira de céu carrancudo, barraca do Cesinha na feira da Marcondes Salgado. Entre frutas e legumes o assunto futebol e logo alertado com a chegada de um senhor que o feirante já deu o alarme: “jogou muito”.
Seu Paulo, senhor de 87 anos e a pergunta do repórter – senhor jogou futebol profissional? Joguei no São Paulo, mas comecei no Guarani de Campinas.
Natural da vizinha Guará, Paulo Martorano deixava a sua terra natal para estudar em Campinas e as defesas no gol do Colégio Ateneu Paulista levou o jovem goleiro para treinar no Guarani.
Com a camisa do bugre Paulo Martorano sagrou-se bicampeão juvenil paulista até o dia que foi chamado para substituir o goleiro Dirceu, titular, e foi profissionalizado.
DO GUARANI PARA O SÃO PAULO
Na sua mesa de trabalho ouvindo suas histórias e folheando um grosso álbum de fotografias e recortes de jornais antigos, principalmente da Gazeta Esportiva, fui me deliciando de um passado histórico do futebol.
Paulo lembra do jogo de 1956 do Paulista, quando o Santos perdeu para o Guarani de 4 a 2 onde defendeu pênalti e o convite do técnico Lula para se transferir para o Santos.
O Palmeiras também havia se interessado pelo jovem goleiro bugrino, mas o preço assustou os dirigentes esmeraldinos como está na manchete da Gazeta Esportiva: “1 MILHÃO DE CRUZEIROS QUER O GUARANI PARA PAULO”.
Com Poy parado, Paulo acabou sendo negociado com o São Paulo em 1956 e conquistou o título paulista de 1957.
A DOR DE NÃO IR À COPA DA SUÉCIA
A boa fase no São Paulo o levou à Seleção Brasileira para o amistoso contra a Seleção de Portugal naquele 16 de junho de 1957 com gols de Zito, Mazzola e Del Vecchio. A Seleção se apresentava com Paulo, Paulinho de Almeida, Bellini, Jadir e Nilton Santos; Zito e Didi; Pagão, Del Vecchio (Mazzola) e Tite. Técnico Silvio Pirillo.
Um choque com Nardo num jogo contra o Palmeiras, que chegou afundar o maxilar, tirou Paulo do segundo jogo contra os portugueses no Maracanã e da Copa do Mundo da Suécia, sendo convocado Castilho goleiro do Fluminense para a reserva de Gilmar.
Paulo foi convocado três vezes para a Seleção Paulista e também pela Seleção Brasileira que disputou o Sul-Americano no Uruguai em 1956.
PRIMEIRO GOL DE PELÉ
O papo vai rolando, vamos ouvindo e folheando o rico álbum de um ontem que enche não só seu Martorano, mas todos aqueles que amam o futebol com boas lembranças e muita saudade.
Paulo recorda do clássico contra o Santos quando o garoto Pelé entrou no segundo tempo e marcou o seu primeiro gol no time principal do Peixe.
COMERCIAL E MÉXICO
A sua passagem pelo Comercial nos anos 60 foi lembrada pelo goleiro como também pelo futebol mexicano onde defendeu o Oro, de Guadajara, e o Necaxa, de Aguascalientes.
Paulo Martorano deixou o futebol em 1962 com uma história bonita no mundo da bola que recordamos no Saudade FC.