Vinte e quatro indígenas da etnia Warao, que habita o nordeste da Venezuela e norte da Guiana, dentre eles 15 crianças, acamparam por dois dias no início de abril na Praça Coração de Maria, na Vila Tibério. Segundo a Secretaria de Assistência Social (Semas), o grupo estava na cidade havia duas semanas.
O secretário de Assistência Social, Guido Desinde Filho, disse que “eles estão vindo do Pará e a última cidade que eles informaram que estavam foi Campinas. Tem crianças de dois anos que já nasceram aqui no Brasil”, afirmou. “Eles estão vindo como nômades, estão vindo em cada cidade e em busca de uma terra natal para eles”, completou.
Os indígenas chegaram a ficar abrigado na Casa de Passagem, equipamento público que oferece abrigo, banho, roupas de frio e alimentação. Mas, deixaram o local por vontade própria na noite de 1º de abril, informou a Semas.
A Secretaria de Assistência Social afirma que eles não aceitaram as sugestões de destino oferecidas pela secretaria. “A pasta ressalta que o grupo alegou possuir recursos próprios para garantir estadia em outro local”.
Um dia antes e um depois de ficarem na Casa de Passagem, os indígenas estiveram na Praça Coração de Maria, na Vila Tibério. As crianças têm de 1 a 11 anos de idade.
Depois de deixar o abrigo, o grupo foi monitorado pela assistência social do município enquanto permaneceu em Ribeirão Preto.
Em Belém
Desde que estourou a crise política, econômica e social na Venezuela, os Warao vieram para o Brasil, em 2017. No total, segundo o Núcleo de Atendimento ao Migrante e Refugiado do Pará, foram identificados 462 indígenas Warao residentes na Região Metropolitana de Belém, até março de 2020. Este quantitativo se distribui entre abrigos institucionais do Governo do Estado, Prefeitura de Belém e casas particulares, alugadas pelos próprios indígenas ou mantidas pela sociedade civil.
HISTÓRIA
Índios Xerentes na Vila
Caia o sol no horizonte. A pacata São Sebastião de Ribeirão Preto vive o advento do menino Deus, 20 de dezembro de 1938.
O “Delegado Regional de Polícia, Dr. Francisco Gonsalves Belchior” colocava a força policial de prontidão. O alerta era geral. Os Indios estão chegando!
Mas, os Xerentes chegaram numa boa, acolhidos pela população curiosa para ver de perto os nativos vindos de “Piabanha do Tocantins, norte do Estado de Goyas com destino ao Rio de Janeiro, aonde pretendiam avistar-se com o chefe da nação dos brancos, Getúlio Vargas, o “ Pae Grande”, como era chamado”.
Os índios eram “chefiados por Vicente Lima da Costa, já civilizado, e que fala quase que correctamente a nossa Iíngua”.
Durante a permanência em nossa cidade os nativos foram hóspedes da Sociedade Amiga dos Pobres, em Vila Tibério.
O estatuto da sociedade proibia a permanência por mais de três dias e foi aberta uma exceção para os indígenas, que ficaram meses.
Como nenhuma instituição forneceu as passagens dos indígenas para o Rio de Janeiro, a própria Sociedade Amiga dos Pobres acabou pagando, conforme “relatório das ocorrências durante o exercício de 1939”, assinado pelo presidente da entidade Max Bartsch e pelo secretário Henrique Novo: “(...) forneceu passagem à São Paulo no valor de 340$000 a um grupo de índios Xerentes de passagem por esta cidade, com destino ao Rio, fato este bastante noticiado pelos jornais.”
Do livro “Memórias de um Albergue”, de Antônio Carlos Bertolazzo, publicado em capítulos, mensalmente, no Jornal da Vila, entre setembro de 2009 e agosto de 2010, na ocasião do centenário de fundação da Sociedade Amiga dos Pobres.
Índios da Vila
Talvez seja dessa época a fama da Vila Tibério ser chamada de terra de índios, numa Ribeirão que ainda não tinha 80 mil habitantes e tudo repercutia intensamente.
Imaginem o alvoroço que foi o desembarque de um grupo de indígenas e sua “instalação” na “Amiga dos Pobres”, em 1938/39.
Será que isso explica o famoso time amador se chamar Tupy; os escoteiros, Aymorés; a orquestra, Tupan; e ainda o hotel Cacique, a fábrica Urubatan e o bar, Apache?