Ele, que já rodou o Brasil, adotou a Vila Tibério como sua casa
O paraibano Rodolfo Dartan reúne habilidades de multiartista e transforma as aulas em aprendizados lúdicos. Formado em Literatura, trabalha com o ensino médio dando aulas de história da arte e de literatura.
Dartan, na verdade é Rodolfo Alves, e começou em João Pessoa, na Paraíba, a desenvolver seu talento.
“Meu nome mesmo é Rodolfo Alves. Dartan foi um pseudônimo que criei, na época em que comecei a trabalhar com teatro e música. Quando participei do primeiro show tinha vários colegas com nome artístico. Meu nome não é artístico, é muito severo. Se eu fosse cantor de ópera seria um nome perfeito. Tem nomes que tem sonoridade para determinadas atividades”, diz ele.
Participou de muitos movimentos na Paraíba. Se envolveu com teatro e com grupos musicais do SESC. Tinha muitos amigos lá que eram produtores de teatro, atores, músicos, poetas e pessoal de TV.
“Um artista louco como eu era naquela época tinha uma visão diferente, lá já me tratavam como multiartista. E perguntavam quando iria me decidir: se era pela poesia, pela música ou pelo teatro. Aprendi violão principalmente para compor e fazer as minhas próprias músicas”, afirma Dartan.
PRIMEIRO PORTO
Quando saiu de João Pessoa, em meados dos anos 1980, seu primeiro porto foi o Rio de Janeiro que era referência para quem vivia na Paraíba e no Nordeste de modo geral.
“Achei que ia chegar e mostrar a minha música, que ia acontecer. Eram composições diferentes, com pegada de Maracatu, de folclore. Vim pro Rio muito bruto e a vida foi me lapidando”, constata.
Do Rio rodou o Brasil: participou de um festival de teatro que acontecia regularmente em Franca, na década de 80. Conheceu vários grupos e foi para Brasília num festival latino-americano, onde fez vários cursos.
Foi quando descobriu a Mímica e procurou o mestre argentino Alejandro Bedotti, radicado em Porto Velho. Não teve dúvidas e partiu para Rondônia encontrar com o famoso artista.
“Aprendi muito rápido, com muita facilidade, e descobri que a Mímica não é para qualquer um. Posso transformar qualquer pessoa em ator, pode não virar um ator espetacular, mas pode representar, vai conseguir fazer. Posso trazer uma pessoa pra música. Com a Mímica é diferente”, diz ele, que completa: “a mímica foi codificada pelo francês Éttienne Decroux. Muitos acham que foi o Marcel Marceau, que trabalha mais com a linguagem da pantomima que é mais livre. A Mímica é mais técnica. Onde você usa o menor espaço possível e realiza tudo com o corpo”.
O mestre argentino ensinou muitas coisas ao Dartan que encontrou o caminho das pedras. Ele foi atrás, pesquisou, estudou e no seu auge foi comparado a Ricardo Bandeira, grande mímico brasileiro.
“Ser comparado ao Ricardo Bandeira foi um grande elogio um privilégio para mim. O problema é que quando você abraça a mímica você abraça a solidão, é uma coisa muito solitária. É uma introspecção na solidão”, relata Dartan.
RIBEIRÃO PRETO
Nessas idas e vindas, foi a Campinas ajudar um pessoal do Movimento Negro. Fez um boneco gigante para eles e isso encantou membros do Partido Verde de Ribeirão que estava por lá.
Veio para Ribeirão, mas ainda morava no Rio Grande do Sul. Depois foi para Vitória no Espírito Santo. Em 89 veio para morar Ribeirão e conheceu o professor Antônio Cassoni, que o levou para dentro da sala de aula no Anglo da Praça Sete de Setembro. Fez uma série de trabalhos com ele, inclusive montou a peça “Vestido de Noiva” de Nelson Rodrigues, cujo texto era leitura obrigatória no vestibular da Unicamp.
“Ribeirão na década de 80 era um lugar encantador e envolvente, com muitas ideias rolando. Fiz mímica no Bar Mania e lancei meu CD lá, em 1999”, conta Dartan.
Hoje, ele está montando um livro que vai se chamar “Um deserto de coisas”. Está selecionando os poemas. No ano passado começou a escrever e com a pandemia parou, agora está retomando.
“Tenho um ‘que’ com a Vila Tibério. O primeiro lugar que eu morei aqui na Vila foi na rua Álvares de Azevedo, quase no último quarteirão. Fiquei muito tempo ali. O vendaval de 94 acabou com o meu telhado”, lembra ele.
Dartan depois foi para o Jardim Antártica e voltou pra Vila, onde mora com a esposa até hoje, na rua Dois de Julho.
Perguntado sobre o que achou da reforma da Avenida do Café, foi rápido: “quem planejou a reforma da Avenida não entende de urbanismo. O cara nunca veio a Ribeirão, não conhece as pessoas. Ele está mais para um designer do que para arquiteto ou engenheiro”, desabafa Dartan.