Em tempos passados, as divergências entre a igreja católica e as ciências várias vezes impediram a evolução de importantes pesquisas, além de causarem grandes injustiças. Principalmente na época da inquisição quando não era conveniente para a igreja aceitar teorias que divergiam das suas. A inquisição teve início na Idade Média, no século 13, e quem comandava o espetáculo era a Igreja Católica Romana, através do Tribunal do Santo Ofício.
Havia os tribunais que decidiam o destino daqueles que poderiam ser uma ameaça às crenças filosóficas e religiosas da santa igreja. Aqueles que caiam no “pente fino” desta instituição viviam momentos cruciais, pois eram julgados e, se condenados, as penas iam de prisão perpétua até a crueldade da morte na fogueira. Simplesmente era montado um mórbido espetáculo e eram queimados vivos em plena praça pública, cercados por uma multidão. Essa forma de julgamento acontecia na Itália, França, Espanha e Portugal.
Os tais chamados hereges nunca ficavam sabendo de onde partira as denúncias porque era muito comum que os denunciantes, com o intuito de vingança, fornecerem nomes de seus inimigos para serem investigados pela inquisição e por conta disso, muitas foram as injustiças. Assim foi com Joana D’Arc, Giordano Bruno e Galileu Galilei.
Joana D’Arc, uma das maiores injustiçadas, foi líder da libertação francesa durante a Guerra dos Cem Anos. Por um grande “imbróglio” político envolvendo o rei francês Carlos VII e os ingleses, acabou nas mãos da temível inquisição francesa. Considerada bruxa, pois tinha visões e recebia mensagens que dizia ser de santos onde era orientada para entrar no exército francês e ajudar seu país em guerra contra a Inglaterra. Chamada de bruxa foi condenada por heresia e queimada viva aos 19 anos em Rouen, França. Mas, sua morte serviu para fortalecer ainda mais a lenda sobre sua história e, em 1920, a Igreja Católica, responsável por mais esta grande injustiça, fez sua canonização tornando-a Santa Joana D’Arc. Uma triste história a qual contarei os detalhes mais tarde.
Já na Itália, um frade da Ordem dos Dominicianos, filósofo, teólogo, poeta e místico pagou caro por desafiar a própria Igreja ao discordar de uma de suas teorias que afirmava que a Terra era o centro do universo. Em 1575, após receber seu doutorado em teologia, ele abandonou a ordem. Este homem era Giordano Bruno que afirmava: “Deus é onipotente e perfeito e o universo infinito”. Seu conturbado julgamento durou sete anos e durante todo esse tempo ele se negou a renunciar às suas teorias ou declarar arrependimento. Em fevereiro de 1600, o então papa Clemente 8, firmou a sua sentença: morte na fogueira. Assim, na cidade de Roma, uma multidão lotou o Campo dei Fiori para assistir o terrível espetáculo da morte de Giordano Bruno queimado vivo na fogueira. Conta a história que quando um dos presentes lhe mostrou um crucifixo, ele ainda encontrou forças para virar o rosto. Outra história que merece ser contada. Atualmente, neste lugar em que foi queimado, há uma grande estátua sua toda em bronze.
Um dos casos mais conhecidos pela sua importância histórica foi do astrônomo italiano Galileu Galilei que deu início a uma nova fase do mundo da ciência quando defendeu o racionalismo matemático como base do pensamento científico. Segundo ele, “o universo é um texto escrito e caracteres matemáticos”. Nasceu em Pisa, Itália, em 1564 e desde muito jovem impressionava os professores do mosteiro de Vallombrosa pela sua extraordinária capacidade para invenções mecânicas, assim como pela sua habilidade manual e criatividade. Como nunca foi adepto ao estudo convencional, abandonou o curso de Medicina na Universidade de Pisa, dedicando-se exclusivamente ao estudo da Matemática e Ciências.
Foi nesta época que, observando o movimento oscilatório dos lustres da catedral de Pisa, teria descoberto as leis do pêndulo, constatando que o período de um pêndulo não dependia da natureza e da massa da substância, ponto de partida de suas importantes pesquisas. Retornando à universidade doutorou-se em 1585 e foi dar aulas na Academia Fiorentina, ficando conhecido no mundo científico devido a um de seus inventos: a balança hidrostática. Em 1589, após publicar um estudo sobre a gravidade, foi convidado a ensinar na Universidade de Pisa onde realizou sua mais famosa experiência quando provou que objetos de diferentes massas, caindo em queda livre do mesmo ponto e ao mesmo tempo, chegam juntos ao solo. Para provar sua teoria, realizou tal experiência na famosa Torre de Pisa conseguindo derrubar a falsa concepção dos fenômenos naturais e noções sobre a gravidade, depois desenvolvida por Newton.
Em 1613 publicou a História e Demonstração Em Torno das Manchas Solares, defendendo as idéias de Copérnico sobre o sistema heliocêntrico. Foi aí que caiu nas mãos da inquisição, pois este sistema era considerado uma heresia pela igreja. Para a igreja o perigo maior era que Galileu, ao contrário de outros sábios da época, não escrevia em latim, mas na linguagem do povo, motivo que o tornou extremamente popular. Para piorar, ele reafirmou que as Escrituras eram alegóricas e não podiam servir de base para conclusões científicas. Após grande polêmica, a Igreja Católica proibiu o livro de Copérnico e Galileu, mesmo sendo muito religioso, foi chamado a Roma para submeter-se ao poderoso tribunal da inquisição e defender-se da acusação de heresia. Não foi para a fogueira, mas condenado a prisão domiciliar e impedido de continuar com suas pesquisas.
Recolhido em seu castelo em Acerbi, conseguiu permissão do Papa Urbano VIII para escrever seu maior trabalho sobre o movimento da Terra, onde afirmava que ela girava ao redor do Sol. Novamente julgado pela inquisição e, como não era idiota, teve que abjurar para não sofrer a terrível condenação de morte na fogueira. Mas, no fim da declaração, lida em voz alta, na qual renunciava as suas opiniões, murmurou referindo-se a Terra: “EPPUR SI MUOVE” (No entanto ela se move). Ao visitar a Universidade de Pádua, em 12 de setembro de 1982, o Papa João Paulo II, retirou as acusações de heresia contra ele e finalmente em 1992, com mais de três séculos de atraso, o “reabilitou”, reconhecendo-o como um “físico genial”.
As mulheres também não escaparam deste tribunal, pois para os inquisidores todas as práticas de cura feitas com uso de remédios ou chás de ervas eram consideradas bruxaria. As chamadas “bruxas medievais”, na verdade tinham conhecimento do poder de cura de várias plantas, mas sofriam castigos violentos. O Grande Inquisidor usava e abusava de seu poder até que no início do século 19 as atividades do Tribunal do Santo Ofício (inquisição) foram extintas. Tudo isto na época medieval.