No dia 2 de maio passado foi comemorado o quinto centenário de um dos maiores gênios da arte e um ícone do Renascimento italiano: Leonardo da Vinci. E como todo gênio tinha lá suas excentricidades. Este artista que pintou o quadro mais famoso do mundo, a Mona Lisa, era também mestre em diversas outras habilidades, e excelente engenheiro e cientista. Talentos que até hoje causam surpresa. Com certeza um gênio bem à frente de seu tempo.
Nascido em uma aldeia perto de Florença, filho ilegítimo de uma camponesa com um dono de terras, ficou pouco com a mãe e foi morar com o pai, já casado com outra mulher. Nunca frequentou escola e aprendeu a ler e a escrever em sua própria casa. Da Vinci, cujo Q.I. foi avaliado em 220 pontos, era considerado grosseiro e ignorado no meio intelectual de Florença. Era disléxico e canhoto, escrevia ao contrário com medo que suas ideias fossem plagiadas. Era vegetariano, não tomava leite nem mel e também um ferrenho defensor dos animais que comprava nas feiras para depois libertá-los de suas gaiolas.
Inventor, astrônomo, filósofo, mestre de cerimônias, projetista militar e entre suas invenções, consta até que fez o primeiro protótipo de um robô humano feito de madeira, couro e metal que sentava, acenava e abria a boca. Também chegou a fazer uma geladeira que batizou de “máquina de refrigerar”. Fascinado pela ideia de voar, projetou o que seria um helicóptero deixando anotações sobre como funcionaria. Tudo isso em pleno século 15. Tinha um grande interesse pela anatomia humana como podemos constatar em sua famosa obra “Homem Vitruviano”. Muito mais pode ser falado sobre este gênio que dizem que até inventou o guardanapo.
Mas, como seria Da Vinci? Era bonitão e com um belo porte físico. Gostava de usar túnicas coloridas, principalmente cor-de-rosa e um tanto curtas para os padrões da época. Sua longa e encaracolada barba ia até o meio de seu peito. Gostava de chamar a atenção, adorava música e não perdia uma festa. Gênio, não era nada genioso e sabia se socializar com as pessoas. Talvez por isso superou o fato de ser filho bastardo, pois naquela época a sociedade preconceituosa não aceitava esta situação. Aos 24 anos foi acusado de sodomia com um jovem de 17 anos. Também na época, homossexualismo era tido como crime. Foi preso e conseguiu se livrar desta acusação por falta de provas.
Outro gênio da mesma época, Michelangelo, odiava Da Vinci, mas esta rivalidade histórica entre dois gênios fica para depois. Da Vinci também tinha lá seus “ataques”. Uma dessas passagens foi escrita por ele mesmo em um de seus blocos de anotações. Conta ele que em um sábado santo um padre ia de casa em casa abençoando-as com água benta. Ao chegar em sua casa e entrando em sua sala, ele aspergiu água benta em suas obras. Furioso ele perguntou: “Por que o senhor está molhando minhas pinturas”? O padre respondeu que esse era o seu dever, pois segundo a promessa divina, aquele que pratica o bem na Terra recebe o dobro no céu. Da Vinci esperou o padre terminar com a benção e subiu em uma das janelas de sua casa. Dali, quando o padre saía, jogou uma bacia de água sobre sua cabeça. “Eis o dobro que está vindo de cima em retribuição ao bem que o senhor acabou de me fazer com água benta, arruinando metade de minhas pinturas”, falou ele.
Sua famosa pintura, a Mona Lisa, foi roubada do Museu do Louvre em 1911 por um funcionário do museu, Vicenzo Peruggia, que conseguiu driblar o precário sistema de alarme na época. O roubo só foi notado no dia seguinte e até o então jovem pintor Pablo Picasso, foi considerado suspeito. O quadro foi recuperado dois anos depois quando um homem tentava entregá-lo a um vendedor de antiguidades em Florença. Ao ser preso confessou que queria devolver a Mona Lisa para sua verdadeira pátria, a Itália.
Sem nunca se manifestar sobre religião em seus escritos, ele prestou uma fantástica homenagem a fé católica com sua outra famosa obra, A Última Ceia. Com todo este talento deixou apenas cerca de 20 quadros. Morreu em 2 de maio de 1519, aos 67 anos e, segundo alguns fofoqueiros da época, nos braços do rei da França, país onde viveu seus últimos anos.
A única cópia do Codex Leicester ou Codex Hammer, manuscrito de 72 páginas ilustrado por Da Vinci é agora propriedade do bilionário da Microsoft, Bill Gates, que a comprou em um leilão nos anos 90, por cerca de 40 milhões de dólares. Escrito entre 1506 e 1510 inclui tópicos como a difusão de luz e reflexões sobre a luminosidade da lua e um estudo sobre hidrodinâmica. As últimas palavras de Da Vinci foram “ofendi a Deus e a humanidade, fazendo muito pouco da minha vida”. Um gênio nada convencido.