Baixinho, barrigudo, mau hálito, sempre usando longas perucas e, assim mesmo, era o “crush” da época. Para completar, o seu maior trunfo causando suspiros apaixonados nas mulheres, era seu título: Luís XIV, o Rei Sol. Ele foi o grande protagonista de um dos reinados mais corruptos da França. Vaidoso e prepotente se auto definiu como Rei Sol e proclamava em alto e bom som: “L’Etat c’est moi” (o Estado sou eu).
Nascido em 1630, filho de Luís 13 e Ana da Áustria, aos cinco anos perde o pai e duas grandes influências vão marcar sua vida: a da mãe, a regente, e a do cardeal Mazarino, que era o todo poderoso ministro do Estado. Aos treze anos foi declarado maior, mas deixou que Mazarino governasse o país e este, ciente de seu poder, deitava e rolava. As coisas não mudaram muito.
Em 1660 casa-se com Maria Teresa e com a morte de Mazarino, Luís 14 assumiu um reino poderoso porém, no qual, imperava uma grande desordem endêmica causada pelas guerras contra a Espanha e, principalmente pelas confusões internas devido as intrigas parlamentares e as constantes revoltas de um povo na miséria, além da crise econômica da nobreza. Mas, nada disso lhe afetou.
Diante do Conselho se impõe como “Senhor Absoluto”, manifestando claramente sua vontade de reinar sozinho. Assim, absolutista, se achava a própria França e se colocou em um alto pedestal transferindo em 1682, a corte para o Palácio de Versalhes pois, como de bobo não tinha nada, queria melhor controlar seus comandados. Versalhes se transformou em capital do reino até 1789 e foi ali, que teve início a Revolução Francesa.
Mas, vamos ao que interessa: o Castelo Versalhes. Este castelo, um dos mais suntuosos da Europa, foi edificado no antigo pavilhão de caça de Luís 13 e para reformá-lo, Luís 14 gastou uma grande fortuna. A maior preocupação do Rei Sol era o luxo e comodidade do palácio e, para isto, mantinha a seus serviços 4 mil pessoas que formavam a casa real. Outro disparate de abuso de poder era o fato de que sua neta, de apenas dois anos, possuía uma ala com 22 pessoas a seus serviços. A casa militar do rei era composta de 10 mil homens luxuosamente uniformizados.
Mas, como diz o ditado que nem tudo que reluz é ouro e agora com a preocupação com o tal coronavírus, fico imaginando como seria a higiene daqueles tempos. Falo nisso, porque sabemos da fama dos franceses com respeito a banhos e, quando passei por aquelas bandas tempos atrás e visitei o tal palácio, o que menos vi foi banheiros.
Bem, segundo alguns historiadores, este rei que vemos todo imponente nas pinturas, não fugia da regra. Banho, nem pensar. Dizem até que a bela banheira que mandou instalar no palácio de Versalles virou fonte de jardim por nunca ter sido usada. Luís 14 era adepto do chamado banho seco, ou seja, trocava de roupas várias vezes durante o dia e para disfarçar os maus odores se impregnava de perfumes pelo corpo e nas roupas. Os punhos das camisas sempre brancos, era sinal de limpeza.
Mas, Versalles apesar de todo o luxo, era considerado um lugar onde o cheiro não era nada agradável. Na verdade, nos quartos tinham o famoso penicos que eram esvaziados pelos criados, só que muitas vezes, o conteúdo era jogado pelas janelas do prédio e como não havia escoadouro, o cheiro se espalhava por todo palácio. Também, esses criados, durante reuniões e festas dos nobres em Versalles, passavam pelos corredores levando os urinóis para aqueles que tinham necessidades de usá-los. Mas, como era muita gente para pouco pinico, muitos faziam suas necessidades atrás das cortinas. Sem contar com a participação dos muitos cachorros dentro e fora do palácio.
Luís 14 tinha várias cadeiras com buracos onde os pinicos eram colocados e, por incrível que pareça, quando tinha necessidade, sentado em um desses “belos tronos” ele recebia visitas e dava audiência. Para amenizar a situação com relação a esta “higiene”, os tempos eram outros e naquela época acreditava-se que a água quente causava disseminação de todas as doenças pois, como abria os poros, qualquer doença e até mesmo a peste entraria por ali. Também acreditavam que o banho acabava com a virilidade masculina. Resumindo, a água quente era o terror da época então, dá-lhe perfume.
Para completar, até a igreja tem sua participação nessa história acusando o banho completo como imoral e, portanto, só era permitido lavar as mãos e o rosto. Muito antes, os romanos construíram termas onde eram permitidos os banhos públicos e em muitas cidades medievais havia até latrinas. Mas, os franceses preferiam os perfumes. Segundo as más línguas, o próprio Luís 14 abria as janelas do palácio para aliviar o cheiro quando entrava em uma sala. Não se sabe se o que fedia mais, o palácio ou seus residentes.
Mas, o Rei Sol era cheio de classe, lavava as mãos antes das refeições em um fiozinho de água que era despejada por um de seus cortesões. Detalhe, o grande Rei Sol, comia elegantemente com as mãos. Com tudo isto isso, Luís 14 era um garanhão e a quantidade de seus casos perde a conta. Traia abertamente a esposa e, para recompensar as ex-amantes, ele legitimava os filhos fora do casamento.
A grande prioridade de Luís 14 era, como Rei Sol, brilhar sozinho e não permitia que ninguém viesse ofuscar sua presença e, sem hesitar, afastou do poder a própria família, o alto clero e a nobreza rebelde. Como Chefe da Igreja da França, ele também exigiu da religião total submissão, conseguindo máximo apoio da Assembleia Geral do Clero, contra o Papa.
Também usou toda uma forte repressão contra os protestantes conseguindo, em 1685, o êxodo maciço dos partidários da Reforma, fator crucial para a economia da França. Mas, Luís 14 tornou-se também protetor das artes e da ciência, porém, usando-as a serviço de sua glória. Durante seu reinado florescem as grandes obras literárias de Moliére, Racine e Boileau, que fizerem de Paris e Versalles os mais importantes centros de cultura da Europa, aumentando o esplendor da Academia Francesa.
Além da glória, era ambicioso, belicoso e como disponha de um exército poderoso, tinha pretensões de conquistar a coroa da Espanha. Foi aumentando suas conquistas até que a Europa se une e dá um basta na política hegemônica do rei, obrigando-o a devolver o que surrupiou.
Entre 1613 e 1614 começa o declínio de seu reino: miséria e fome das classes populares, falta de comida, epidemias e desemprego levam o país ao fundo do poço. Luís 14 morre em 1 de dezembro de 1715, deixando uma França agonizante. No entanto, nesta corte corrupta, ele sempre viveu no luxo, desfrutando de mesas fartas, usando e abusando dos melhores perfumes.