Cozinhar é uma arte e sem dúvida nenhuma, uma das mais requintadas que existe. Cozinha de classe, erroneamente considerada por muitos, não é somente aquela que usam os ingredientes caros e exóticos. Um prato simples pode se tornar um prato de classe. O segredo é o sabor, basta um condimento certo e cada prato se torna extraordinário. A cozinha de classe é uma arte que requer paciência, imaginação e principalmente amor.
Desde seus primórdios o ato de se alimentar é considerado pelo homem um momento importante de seu cotidiano, não apenas como uma necessidade fisiológica para sua sobrevivência, mas como um momento de comunicação e comunhão. Em todas as variações de grupos sociais, desde os mais primitivos aos mais aristocratas, o momento de sentar-se à mesa para se alimentar sempre teve um valor ritual.
Por muitos séculos a comida e a bebida eram colocadas no centro de um grupo e todos se serviam com as mãos. As diferenças sociais eram notadas através da fartura ou pobreza dos pratos, da simplicidade ou da elegância no qual o alimento era servido. Mas, o ritual era sempre o mesmo, todos os comensais se serviam das mesmas vasilhas e com as mãos.
Nas civilizações mais primitivas isso era privilégio dos velhos, dos sábios e dos mais experientes, pois o valor da sabedoria era maior que o da força. Também não havia uma sequência ao servir ao servir os pratos crus ou cozidos, frutas ou doces. Tudo era colocado à mesa e cada um se servia ao bel-prazer.
Os romanos através de suas conquistas começaram a trazer de outras terras, novas e exóticas especiarias. As famílias nobres disputavam entre si qual apresentava os pratos mais elaborados e elegantes. Começava então, o costume de anotar como foi feito um determinado prato para poder repeti-lo de acordo com seu sucesso e assim, foram escritas as primeiras receitas e os primeiros cardápios.
Durante o renascimento o hábito de sentar-se à mesa começou a ser considerado um ritual de prazer e relax. Nesta época começaram a aparecer as louças mais finas, os talheres, as toalhas e as grandes e rústicas taças transformaram-se em copos. Cada comensal tinha seu lugar à mesa e usa seu próprio prato e talher ao se servir.
A “mesa” assume papel importante na política, na religião e nas relações internacionais. Ali, todos os conchavos eram discutidos e resolvidos. Da qualidade e beleza dos pratos servidos e da hospitalidade, dependia a fama dos poderosos. Começa então, a ter destaque e importância do cozinheiro e muitas vezes, de sua arte dependia o sucesso das relações políticas.
A conversação durante um banquete tornava-se mais intelectualizada e nascia o conceito de que enquanto se come, é o momento de agregação cultural. Muitos filósofos, poetas, pintores e escritores são admitidos a compartilhar do momento mais importante da corte: o jantar de gala às vezes ansiosamente esperado por semanas e meses. Ali, os artistas descobrem a criatividade deste ritual mágico e ficam totalmente fascinados.
Durante e após o Renascimento, toda a história da poesia, literatura e pintura, começa a caminhar juntamente com a cultura da mesa e seu ritual. Grandes pintores como Arcimboldo, Vicenzo Campi, Caravaggio e muitos outros, retrataram em seus quadros as maravilhas da boa mesa. O mesmo aconteceu com a literatura e a poesia e os músicos mais refinados sonhavam em se exibirem durante os banquetes mais elegantes e suntuosos.
Mas, voltando aos tempos modernos, a correria do dia a dia foi acabando até mesmo com o tradicional costume da família se reunir na hora da refeição. Os pais que trabalham, os filhos na escola, horários diferentes, tudo isso resulta num desencontro total imposto pelo atual estilo de vida.
Cozinhar também pode ser uma excelente terapia e nada mais acolhedor do que ter a família e os amigos a sua volta. Sentar-se à mesa com as pessoas queridas e “jogar conversa fora”, é um momento mágico que alimenta o corpo e a alma.
Mesmo com todas as restrições por conta da atual pandemia, que cada núcleo familiar, por menor que seja, possa se reunir neste Natal e no Ano Novo. Que os sons de bombas sejam substituídos pelos sinos e pelo tilintar dos copos brindando a vida numa mensagem de Paz, Amor e Esperança de que tudo vai passar, sem esquecer do aniversariante. Feliz Natal a todos e que o Ano Novo deixe para trás tudo que deu errado.