No próximo mês de dezembro, dia 9, o falecimento de Tiri completará dez anos. A história do Botafogo não se conta sem ele. Cerca de 40 anos de dedicação como atleta, supervisor e técnico. A maior homenagem a um profissional da área ele recebeu em vida, quando o consagrado técnico Otto Glória declarou publicamente que o sistema 4-3-3, com o armador pela ponta direita, foi lançado pelo Botafogo de Ribeirão Preto, dirigido por Tiri. Foi o período mais longo que ele permaneceu como técnico (interino), em 1974. Aquele time recebeu o apelido de “Orquestra”. O ataque era formado por João Motoca (que armava pela direita), Sócrates, Geraldão e Nenê. Otto Glória não só reverenciou o lançamento da tática, como mandou contratar João Motoca para a mesma função na Portuguesa de Desportos.
Doutor Milton Bueno...
Como supervisor, Tiri mantinha sob seu controle tudo o que envolvia o futebol do clube e ainda tinha sabedoria para evitar que os dirigentes fizessem “besteiras” na área administrativa. Não gostava de ser técnico porque quando estava neste cargo não dormia nas noites que antecediam os jogos. Uma imagem ainda clara e viva na memória deste colunista é a de uma rápida reunião à beira do gramado, daquelas enigmáticas que ele sabia fazer como ninguém para despistar abelhudos, que Tiri encerrou assim: “Manda ele vim, fala que pode vim”. A curiosidade levou o repórter à descoberta: Tiri estava autorizando o primeiro treino do ponta-direita Zé Mário Baroni no Botafogo. Competente, sério, mas com humor afiado para brincadeiras, sempre que alguém o chamava pelo nome ele retrucava: Milton Bueno não, DOUTOR Milton Bueno.
O choro...
Quem chora a perda de Tiri, provavelmente, o faz com o mesmo sentimento sincero que ele derramou em lágrimas ao ver o jogador Souza promovendo quebra-quebra no Estádio Santa Cruz, em 2005, revoltado com atraso de pagamento e descaso da diretoria. Naquele dia de fúria do volante, Tiri, que há anos já estava fora do clube e morando em Descalvado, passava por Santa Cruz para rever amigos. Certamente, cenas como aquelas e outras situações caóticas vividas no Botafogo, como muitas que ocorrem na atualidade, jamais aconteceriam se ele ainda estivesse do clube. Felizes são aqueles que aproveitaram a convivência para aprender com Tiri, ou melhor, com o “Doutor Milton Bueno”.